Ele era um garoto normal. Tinha amigos, sonhos e sorrisos
estampados no rosto. Gostava de ajudar as pessoas, gostava de se sentir útil,
gostava de fazer os outros sorrirem. Cresceu assim, apesar de ser um pouco
retraído e de ter tido uma adolescência um tanto quanto solitária. Crescer não
é uma tarefa muito fácil, mas ele sempre acreditou que daria conta do recado.
Ele sempre sonhou com uma família dessas dos comerciais de
margarina. Não ao pé da letra. Não. Ele não era assim tão ingênuo. Mas o sonho
dele era poder construir uma família de pai, mãe, filhos/irmãos.
O garoto da nossa história foi criado pela madrinha. Tinha
contato com os pais sempre, os visitava todo fim de semana. Mas, com o tempo
ele foi percebendo que a família dele era diferente das dos meninos da sua sala
de aula.
Ele morava com a madrinha porque a escola na cidade dela era
melhor. Ia para a casa dos pais nas sextas à noite e voltava nas segundas de
manhã. No fim de semana, eles saiam todos juntos. Nem sempre. Na maioria das
vezes, o pai saia para beber e voltava tarde da noite querendo ouvir música
alta e contar suas histórias de vida. Grandes histórias. Aquilo irritava um
pouco o garoto, mas ele sempre sentava ao lado do pai, ouvia as músicas e as
histórias repetidas de um cara que ele não conhecia.
A mãe tinha um certo mimo pela filha mais velha. Era a única
que morava com eles e estava todos os dias em casa. E irmãos, você sabe como são, né? Sempre que podem fazem birra,
contam vantagem, irritam, pintam o sete. Ela era mais velha, sempre tinha
vantagem nas brincadeiras, com os pais e na vida. Não soube valorizar isso
muito bem, mas enfim, ela tinha as vantagens dela.
Ele via algumas brigas de seus pais e pensava que com seu
jeitinho meigo e inteligente de ser, conseguia fazer seus pais se entenderem. O
pai sempre rasgou seda pelo garoto. A mãe sempre dava o beijo de boa noite.
Dormir sem isso nos fins de semana era o fim do mundo para o garoto.
O tempo foi passando e o nosso garotinho foi crescendo. Hoje
ele tem seus vinte e poucos anos, os pais se separaram, a irmã foi morar em
outro estado. Com a separação, a mãe veio morar na casa com o filho e a comadre.
O pai arrumou uma mulher, mora longe e sempre que pode cobra a presença do
filho.
Nosso garotinho não sabia, mas ele é frustrado. Logo ele que
sempre quis ter um pai para ensiná-lo, uma mãe para protegê-lo. Todas as noites
quando saía da faculdade, sonhava com seus pais te buscando, mesmo sabendo que
isso nunca aconteceria. Sonhava com os almoços de domingo com toda a família
reunida em volta da mesa, sem brigas, sem gritarias, sem mágoa.
Ele se irrita quando a mãe quer colocá-lo contra o pai. E se
irrita também quando o pai quer fingir ser o que nunca foi. Mas ele continua
sonhando. Sonhando com a sua família. Aquela que ele vai ter a chance de construir
e ser tudo o que não foram para ele. Ele sonha em ser amigo dos seus filhos, de
pegar no colo, conversar, dar atenção, beijar, rir, andar de bicicleta pelos
parques da cidade, se lambuzar de sorvete e voltar para a casa com a maior
alegria do mundo, a de ter uma família do jeito que ele sempre sonhou em
fazer parte...
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