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Tatuagem, a arte que te acompanha

Desenhos, frases, histórias, tudo marcado pelo barulhinho do motor que existe há milênios


(Feito para a aula da Lilian - USCS)

A tatuagem surgiu há mais de cinco mil anos atrás. Alguns acreditam que tenha sido nas civilizações pré-colombianas por conta de relatos de múmias tatuadas nesse período. Conta-se que, no Egito, tatuar tinha um significado religioso. Foram encontradas múmias com marcas pelo corpo inteiro e a da sacerdotisa Amunet é citada como a mais importante de todas por possuir pernas, colo e braços tatuados com símbolos de fertilidade.

Em 1991 foi encontrada uma múmia congelada do caçador Otzi, o homem do gelo, da Idade do Bronze, também com mais ou menos cinco mil anos, entre a Itália e a Áustria. Pesquisadores acreditam ser esse o corpo mais antigo tatuado do mundo inteiro.  Quando encontraram a múmia, por estar tão bem conservada, contaram 57 tatuagens ao todo.  

Há uma tribo na Austrália até hoje chamada Maori. Relatos afirmam que a tatuagem teve seu nome ligado diretamente ao som dos instrumentos que os ‘maoris’ usavam. De princípio, a arte era chamada de tatau. Tempos mais tarde, o termo foi mudado por colonizadores e até hoje usamos a expressão tatto.

A tatuagem foi se expandindo com os anos e, aos poucos, o ser humano foi aprendendo a ter gosto pela arte de pintar o corpo. Ainda hoje, existe preconceito. Seja na hora de procurar uma vaga de trabalho, seja o desenho escolhido ou o excesso deles no corpo. Mas é visível que está bem menor.  Há quem acredite que a evolução humana, tecnologia, internet e redes sociais têm influenciado nessa mudança de opinião.

O tatuador Felipe Ponchio, 29 anos, tem 33 tatuagens pelo corpo. Felipinho, como é conhecido, conta que sempre gostou de desenhar e que pensava em trabalhar com HQ (histórias em quadrinhos), mas desistiu por ser uma área que não dá muito. Na época de colégio, um grupo de amigos apresentou como atividade curricular um trabalho sobre tatuagem. “Percebi o quanto o Felipinho se encantou com esse mundo quando os apresentamos”, nos conta Gabriel Fernandes, um dos amigos do colégio. E foi aí que o interesse por esse mundo começou.

Com 17 anos, começou a aprender a tatuar no estúdio do amigo Carlão. “Quando se tem talento, é preciso um pouco de oportunidade. Daí as coisas fluem e ambos os lados ganham. Ganhei mais visibilidade com o talento do Felipe.” Foram dois anos aprendendo as técnicas como qual tinta é boa, o barulho do aparelho, entre outras. Aos 19 anos, montou uma salinha em casa e começou a tatuar os amigos. 

“Cada um se especializa em uma ou mais das várias subdivisões de desenhos, aquele que a pessoa se identifica mais. E por ser um mercado novo, sempre tem novidades. Porém, ainda não há nada reconhecido pelo MEC,” conta Felipe.

O tatuador conta que as dificuldades existem como em qualquer comércio. “Corre o risco de depender da época do ano. Há períodos em que se faz 3, 4 tatuagens por dia. Mas se você tem clientela consegue se manter.”


O lado (todo) tatuado

“Meu pai não deixava eu me tatuar porque eu era muito novo. Então completei 18 anos e, no dia seguinte, com o dinheiro da carta de motorista que ele me deu, fiz a minha primeira tatuagem. É o desenho de um gato com uma serpente na panturrilha.” Hoje, não faria mais o mesmo desenho, não é algo que se arrependa, mas já não tem o mesmo significado da época.

A mãe, dona Cecília conta que não acha a tatuagem uma coisa muito bonita, que não faria, mas que respeita o trabalho do filho, “mãe tem que apoiar o sonho do filho mesmo quando esse não é o sonho dela”. Já a irmã, Natália aproveita o talento do irmão para se tatuar na faixa. “Se eu não aproveitasse seria muito boba, ainda mais eu que sou fascinada por desenhos,” conta a jovem sob os olhares da mãe e do irmão.

No pescoço há dois desenhos: uma rosa ao lado direito com o nome da avó, carinhosamente chamada de Zinha e, ao lado esquerdo, uma navalha com o nome do avô, o saudoso senhor Salvador, ou mais conhecido como Sarva. É uma singela homenagem aos avós maternos, ela que vendia flores artificiais e ele que tinha algumas navalhas para barbear-se, que era costume dos mais velhos. A outra é, segundo Felipinho, uma homenagem ao grande amor da sua vida, aquela que nunca o abandona: o copo de cerveja no antibraço esquerdo. “O legal da tatuagem é a exclusividade! Você curte o ‘trampo’ de um cara e faz. Não um desenho de catálogo que a maioria pode ter.”

 Felipinho diz que quer fechar o braço, pois gosta muito de se tatuar, (não ele próprio, outra pessoa faz o serviço) mas o que o impede de fazer com mais frequência é a dor. “É viciante a tatuagem, quanto mais se tem, mais se quer. Mas a dor, essa não é nenhum um pouco viciante.”

Entre as mais recentes no seu corpo estão as letras ZERO ONZE pelos dedos das mãos em homenagem ao prefixo de São Paulo e a miniâncora que fez perto do olho esquerdo.


Ao olhar para o rapaz com a barbicha ruiva, você se perde em tantos detalhes causados pelos desenhos, pelas histórias que o acompanham desde sempre e que ele faz questão de marcar no corpo. A paixão é vista nos olhos. Eles que brilham cada vez que chega um cliente e Felipinho pode fazer o que mais gosta que é desenhar. E de quebra, colorir a vida de muitas pessoas.

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